28 de junho de 2011

Acorda consciência



De antemão quero deixar claro que respeito todas as opiniões, mesmo que estas por sua vez, sejam diferentes em relação à sociedade, religião e política. Isto quer dizer que sou altamente a favor de quem defende os seus princípios, mas severamente contra quem tenta defendê-los de forma que para isso seja necessário diminuir, ameaçar ou caluniar do seu próximo.

Pois bem, na última terça-feira, 22, a ex-atriz e atual deputada estadual Myrian Rios (PDT - RJ) disse em seu discurso na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) que não contrataria empregados gays, pois os mesmos poderiam abusar de seus filhos e utilizarem como defesa a prerrogativa da PEC 23/2007, que inclui a orientação sexual como direito fundamental na constituição do Estado do Rio.

Confesso que ao ler e ouvir o discurso da então deputada fiquei bastante apreensiva não por ela se posicionar contra a homossexualidade, mas alé
m de usar um argumento tão grotesco como o de afirmar que um gay é um pedófilo, o que a mim causa grandes preocupações é saber que a senhora que cometeu esta total infelicidade se encontra na política que move o nosso país.

Tomemos como base a mídia. O que é mais enfatizado na mídia, quando falamos de abuso sexual, são pedofilias dentro de casa, pai que mantém a filha trancafiada no porão e abusa sexualmente da menor, avô que engravidou a neta. Isso quando não são, professoras que abusam de alunos do sexo masculino. Esse pequen
o levantamento, não chega a ser 10% dos casos que são noticiados pela mídia e denunciados à polícia. Deixo então a minha pergunta: não seriam todos heterossexuais? Onde se encaixa a relação entre homossexualidade e pedofilia?

Dizer que a pedofilia é um ato que só ocorre do lado homossexual é querer usar um discurso completamente surreal e ridículo para justificar a homofobia, esta por sua vez, está longe de ser característica de quem é contra a homossexualidade, mas que define quem denigre, persegue e acusa sem fundamento - visto que os números não mentem - aquele que é gay.

Quem vai dizer que homossexualidade é doen
ça? Quem vai dizer que a pedofilia acontece por culpa dos gays? Quem vai dizer que ser hetero hoje em dia é cafona? O heterossexual que vê uma mãe ou um pai heterossexual abusando sexualmente dos seus filhos? Um homossexual que luta pela igualdade, mas exige cota? Eu? Você?

Nesta discussão entre os lados heterossexuais e homossexuais, vale ressaltar que, muito diferente do que grande parte pensa, o que está em jogo são os interesses dos políticos e daqueles que não usam terno, mas que se aproveitam desta situação para encontrarem o seu lugar ao sol, ou mais precisamente, os seus quinze minutos de fama. Diante da maioria da população que foi doutrinada por esses qu
e estão no poder, a ausentarem o pensamento e a arte de refletir, bater palma e repetir o que eles dizem é a coisa mais fácil para quem quer permanecer no poder graças a alienação em massa.

Não sou política, demagoga, tampouco adepta a qualquer lado que esteja levantando tochas e declarando guerra na ânsia de fazer este ou aquele vencer. Também não sou paga, nem patrocinada para defender causa alguma. Muito distante de tudo isso, sou crítica e faço valer da minha racionalidade, que chamo de qualidade dada ao Homo sapiens, para banalizar essa terrível relação que fazem entre um gay e
um pedófilo, da mesma forma como foi banalizado há anos atrás o fato de que para os brancos, quem passava as doenças encontradas no mundo eram os negros.

Viver em sociedade significa, antes de tudo, saber lidar com um grupo de diferentes pessoas que tenham ou não tenham algo em comum, mas que acima de tudo saibam respeitar e conviver entre si. Seja contra ou a favor das diferenças sexuais, mas aprenda a usar da racionalidade e do respeito para dirigir-se ao próximo.